Mais de 400 mulheres no Encontro promovido pela Coopernova
Exemplos de fibra, empreendedorismo, resiliência e amor pela família não faltaram no encontro recheado de disposição das 400 mulheres, que viveram um dia bem diferente da dura vida no campo.
Publicado em 13 de Março de 2020 às 09:27O dia 06 de março de 2020, na cidade mato-grossense de Terra Nova do Norte, amanheceu com muita chuva. Mas, a água que caia de forma insistente, não foi suficiente para 400 mulheres deixarem de participar do 4º Encontro de Mulheres Cooperativistas, promovido pela Cooperativa Agropecuária Mista Terranova – Coopernova, com o apoio do Sistema OCB/MT, através do Sescoop/MT, na cidade a 650 quilômetros de Cuiabá/MT. Elas foram em busca de conhecimento para tratar de um assunto que entendem muito bem: família. Com o tema ‘Mulher e Família, o espetáculo da vida’, o evento foi transformador para elas, pois eles, os homens, não foram convidados.
“Homem não participa do encontro. É proibida a entrada de qualquer um”, disse o Vice-presidente da Coopernova, Milton Dalmolin, durante entrevista no portão de entrada do evento, mas do lado de fora. “O papel das mulheres reflete diretamente em um assunto que preocupa as famílias rurais, que é a sucessão familiar. Esse é um tema recorrente em todas as ações da cooperativa, mesmo sabendo que diminuiu a saída do jovem do campo para a cidade. Hoje o campo está sendo bem remunerado e percebemos isso na formação de uma nova família. Na minha época, era muito difícil um rapaz do sítio casar com uma mulher da cidade, hoje as mulheres da cidade estão indo buscar os meninos do campo, porque o campo está remunerando, e tem muito atrativo”, exemplifica Milton.
Dalmolin também ressalta que “muitos pais que estão saindo da cooperativa associam seus filhos no lugar deles e o papel das mulheres nesse processo é grande. As mães, esposas e namoradas, participam das ações da Coopernova para se prepararem. Ações que giram em torno do poder da mulher no processo da sucessão no campo, do empreendedorismo. Não queremos discutir doenças, feminicídio, beleza. Nós queremos ir para frente”. E a estratégia vem dando certo. Hoje 15%, dos 2.400 associados da Coopernova são mulheres, uma história que começou com apenas 0,06%.
‘Donas e herdeiras lada a lado da sucessão familiar’, foi tema da palestra da coach Milena Araújo, para uma plateia atenta. “O papel da mulher no processo de continuidade da atividade da família é muito importante. Vejo que elas caminham baseadas nos princípios do cooperativismo, com firmeza, leveza, força e mais felicidade. Uma caminhada que deve ser feita junto com todos os membros da família, e nunca excluindo os filhos. A mulher é que tem a capacidade de expandir, de fazer transição”, disse Milena.
Exemplos de fibra, empreendedorismo, resiliência e amor pela família não faltaram no encontro recheado de disposição das 400 mulheres, que viveram um dia bem diferente da dura vida no campo.
Duas dessas histórias foram contadas. Uma delas foi de uma mulher magrinha, de 36 anos, que teve princípio de trombose na última gravidez, que tem como nome de batismo Elzimeire Palombo Malaquias. Ela mudou sua história, como seu nome também. Para achá-la é só perguntar pela dona Meire, mulher forte, guerreira, que sozinha, cuida do sítio de 34 hectares, com uma rotina que começa às seis da manhã e só termina às 23 horas, nos 365 dias do ano.
Ela se associou à Coopernova em 2017, quando assumiu a produção do leite no lugar do marido, e entrou no Programa Leite a Pasto, realizado pelo Sistema OCB/MT em parceria com a cooperativa. “Eu quase desisti de ir adiante, pois consiguia entregar apenas dois litros de leite. Ainda bem que não desisti, porque já cheguei a entregar 340 litros, e minha meta são 500 litros por dia. Eu acredito que para crescer é preciso ter apoio e incentivo, e a cooperativa me ajuda em tudo”, contou dona Meire.
A história de dona Maria Gonçalves Nunes, também é inspiradora. Ela liderou há 14 anos, um grupo de 80 produtores de leite, da comunidade Sol Nascente, que se revoltou com tratamento dado pelo laticínio que comprava toda produção, onde os produtores nem mesmo conheciam o que eles chamavam de ‘nosso patrão’. “Estávamos todos revoltados e foi aí que conheci o Daniel da Coopernova (Daniel Robson Silva, é presidente da Coopernova), nós queríamos entregar nosso leite para a cooperativa. A briga era grande e a pressão do Laticínio para continuarmos entregando o leite para ele era grande também. Assim, o Daniel disse que para comprar a nossa produção e nos associarmos, nós teríamos que jogar fora 15 dias de todo leite produzido. Uma forma de mostrar a insatisfação com o laticínio. Foi difícil convencer os produtores, mas conseguimos”, lembra dona Maria.
“Eu era a única mulher do grupo e estava liderando tudo aquilo. Tudo foi difícil no começo, e até conseguimos nos associar a Coopernova, foram muitos conflitos. Mas conseguimos. Entramos no Programa Leite a Pasto, e mudamos nossa história. Dos 2.400 litros entregues na primeira remessa dos produtores do Sol Nascente, 14 anos depois, entregamos mais de 13 mil litros e a comunidade continua animada e ninguém quer sair. Sempre digo, que temos de dar valor ao nosso pedaço de terra e de ser cooperativista”, conta. Essa é a história inspiradora de uma produtora, líder e mãe de cinco filhos homens. “Por enquanto sou só eu de mulher lá em casa, até aparecerem minhas noras”, fala Maria, depois de uma gostosa gargalhada.
O evento encerrou com a coach financeira Camila Rossi, nascida em Terra Nova do Norte, mas que ganhou o mundo. Camila deu um show de boas dicas e aconselhou as mulheres para que “libertem o sentimento de inferioridade e seja quem você é de verdade”. Pelo entusiasmo das 400 mulheres, acredito que aceitaram a dica.
O evento foi animado, nos intervalos, pela cantora Telizane Dalla Santa que cantou lindas músicas que valorizam as mulheres.